Sermão expositivo-temático: um exemplo prático
Aqui está o sexto capítulo de minha apostila "Guia de Pregação Bíblica: Construa sermões expositivos-temáticos"
6. Sermão expositivo-temático: um exemplo prático
Chegamos agora ao momento de observar na prática tudo o que desenvolvemos ao longo desta apostila. O sermão que apresentaremos a seguir resulta da aplicação das etapas metodológicas anteriormente expostas e serve como base para inspirar você a elaborar sua própria pregação, acompanhando-o no exercício homilético.
É aconselhável redigir o sermão completo, como se fosse todo o conteúdo que transmitirá no momento da pregação. Isso não significa que você precisará consultar integralmente o texto durante a ministração — seja em papel ou dispositivo eletrônico —, mas representa a melhor forma de organizar suas ideias. Para o púlpito, você pode levar o sermão completo com os pontos-chave marcados apenas como lembretes, ou preparar um esboço resumido.
Vejamos, então, o sermão baseado em Atos 3,1-10, desenvolvido segundo a metodologia do sermão expositivo-temático.
Sermão: "O Movimento de Deus Além das Aparências"
Leitura do texto: Atos 3,1-10
A paz do Senhor, queridos irmãos. Convido vocês a abrirem a Bíblia no livro de Atos dos Apóstolos, capítulo 3, versículos 1 ao 10. Farei a leitura na tradução da NVI.
[1] Certo dia, Pedro e João estavam subindo ao templo na hora da oração, às três horas da tarde. [2] Um aleijado de nascença estava sendo levado para a porta do templo chamada Formosa; ali era colocado todos os dias para pedir esmolas aos que entravam no templo. [3] Ao ver que Pedro e João iam entrar no pátio do templo, pediu‑lhes esmola. [4] Pedro e João olharam bem para ele e, então, Pedro disse: ― Olhe para nós! [5] O homem olhou com atenção para eles, esperando receber alguma coisa. [6] Pedro disse: ― Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho dou a você. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, ande. [7] Segurando‑o pela mão direita, ajudou‑o a levantar‑se, e imediatamente os pés e os tornozelos do homem ficaram firmes. [8] De um salto, pôs‑se em pé e começou a andar. Depois, entrou com eles no pátio do templo, andando, saltando e louvando a Deus. [9] Quando todo o povo o viu andar e louvar a Deus, [10] reconheceu que ele era o mesmo homem que costumava mendigar sentado à porta do templo chamada Formosa. Todos ficaram perplexos e muito admirados com o que lhe tinha acontecido.
1. Introdução
Estamos diante de um texto extraordinário. Como é reconfortante escutar narrativas de milagres grandiosos, não é verdade? Acabamos de ler uma passagem que demonstra o poder de Deus operando através da vida dos discípulos, restaurando completamente a existência de um homem que era mendicante, aleijado e desprezado pela sociedade. Conseguem perceber quão maravilhoso é este texto? Como nada pode impedir o poder de Deus, e não existe pessoa alguma em situação tão indigna que não possa ser alcançada pelo amor do Senhor?
Há, contudo, um detalhe nesta narrativa que frequentemente passa desapercebido. Quando ouvimos relatos ou testemunhos de milagres, naturalmente glorificamos a Deus e direcionamos nossa atenção ao prodígio realizado. Antes não andava, agora anda. Antes bebia excessivamente, agora vive sóbrio. Antes era arrogante e orgulhoso, agora demonstra generosidade e bondade. É óbvio que, em um relato de milagre, o que nos chamará a atenção será o próprio milagre. Todavia, na Palavra de Deus, cada detalhe carrega significado. E há um elemento neste texto que acabamos de ler que confere sentido integral à história — o pano de fundo que revela o que Deus está realizando no meio do seu povo. Desejam saber qual é esse detalhe?
Bem, em breve revelarei. Antes disso, permitam-me narrar uma breve história. Não fugirei do foco da pregação, podem ficar tranquilos. Ela nos ajudará a compreender melhor este texto.
Vocês sabem que já fui líder de jovens e adolescentes por muitos anos. E, olhem, se há algo que jamais me surpreende são as decisões que eles tomam. Imaginem uma galera que faz coisas que não fazem sentido algum no mundo, mas fazem perfeito sentido na cabeça deles.
Havia um jovem que não pertencia à igreja. Bem, ele já havia frequentado cerca de cinco cultos em toda sua vida, mas não era um participante efetivo. Havia, porém, uma jovem que conhecera na escola, pela qual, segundo suas palavras, "se apaixonara à primeira vista". Ele considerava aquela moça linda e sonhava em namorá-la. Conversando com uma amiga dela, descobriu que ela era da igreja e que jamais namoraria com alguém que não fosse cristão. Diante dessa informação, o jovem prontamente concluiu: preciso ir para a igreja.
Então, em um belo domingo, dirigiu-se à igreja, desejando sentar-se em local estratégico onde a moça pudesse notá-lo. Posicionou-se na frente. A igreja não era pequena — era uma congregação grande, com muitas pessoas — e o rapaz se acomodou em local comum àqueles que exerciam funções ministeriais.
A história torna-se ainda mais interessante: um irmão que dirigiria o culto, vendo o jovem sentado na frente e presumindo que ele fazia parte da equipe, perguntou se não poderia fazer a leitura bíblica da noite. O que imaginam que o rapaz respondeu? Já disse que jovens às vezes fazem coisas que só fazem sentido na cabeça deles, não disse? O jovem aceitou. Pensou: "Se ela me vir fazendo a leitura lá na frente, certamente reparará em mim e terei o caminho aberto para me aproximar dela."
Chegou o momento e o jovem foi fazer a leitura — um texto de Mateus 6, onde em determinado momento está escrito: "Tenham o cuidado de não praticar as suas obras de justiça diante dos outros para serem vistos por eles. Se fizerem isso, não terão nenhuma recompensa do seu Pai, que está nos céus."
Durante a leitura, o jovem sentiu-se constrangido consigo mesmo. Naquele momento pensava: "Como sou tolo." Desceu cabisbaixo, sem mais pensar na garota, apenas refletindo sobre como era uma fraude, fingindo ser quem não era dentro da igreja.
Compreenderam esta história? Conseguem perceber que esse jovem estava dentro da igreja, mas sua motivação era completamente equivocada? Identificam que ele se encontrava no templo, lendo um texto bíblico, mas seu coração não estava ali, nem sua essência? A realidade é que o jovem parecia crente — até o momento da leitura mostrava-se um servo de Deus —, mas não era aquilo, apenas aparentava. Faltava-lhe verdade, legitimidade, autenticidade.
Pois bem, queridos irmãos, nosso texto de hoje — sim, a leitura que fizemos de Atos 3,1-10 — aborda exatamente o perigo de aparentar a presença de Deus, quando na verdade essa presença se manifesta e atua em outro lugar, de outra forma.
Vamos examinar isso em nosso texto? Tenho certeza de que o Senhor falará conosco mais uma vez.
2. Contextualização/Explicação
Vocês podem estar se perguntando: onde este texto de milagre aborda a negligência com o movimento de Jesus?
Para isso, precisamos observar atentamente o contexto de nossa passagem bíblica. Notem que em Atos 2, os discípulos de Jesus foram cheios do Espírito Santo. É a célebre passagem onde todos estão reunidos em Jerusalém e experimentam algo glorioso, a ponto de serem considerados embriagados. Trata-se de algo extraordinário e difícil de expressar em palavras, do qual os discípulos de Jesus participaram.